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terça-feira, 11 de junho de 2013

Câmara trava festas dos santos em Arroios (Lisboa)

A ameaça de ruído excessivo estará na origem da decisão da Câmara Municipal de Lisboa de impedir a realização de uma feira popular integrada nos festejos dos santos populares, em São Jorge de Arroios. A decisão da autarquia terá sido comunicada pela Polícia Municipal, na sexta-feira da semana passada, 31 de Maio, aos feirantes e empresários de diversões ali instalados, a poucas horas da abertura do recinto. O presidente da Junta de Freguesia de São Jorge de Arroios, João Taveira (PSD), que organizou os festejos, acusa a edilidade liderada por António Costa de ter tomado uma decisão “profundamente anti-democrática” e com “motivações políticas”. O parque de diversões temporário, instalado num terreno localizado nas traseiras do Liceu Camões e ao qual se acede pela Rua Dona Estefânia, é agora cenário de um desolador silêncio. Está tudo montado, à espera da eventual mudança de posição da câmara.

A ideia da Junta de Freguesia de São Jorge de Arroios era a de, este ano, reavivar os festejos populares que outrora se realizavam no Jardim Constantino – a última vez que tal terá sucedido foi em 1982 -, com a instalação de carrosséis, carrinhos de choque e outros divertimentos mecânicos, tal como toda a panóplia de actividades comerciais temporárias que habitualmente acompanham tais acontecimentos festivos. A junta decidiu instalar esse conjunto de actividades num enorme terreno baldio conhecido como Casal de Santa Luzia, situado num rectângulo entre o Largo de Dona Estefânia, as traseiras do Liceu Camões e o edifício da nova cidade judiciária, em fase de finalização. O terreno, localizado numa das zonas mais centrais da cidade, aguarda há mais de três anos a resposta a um pedido de licenciamento para a construção de um projecto imobiliário de grande dimensões – isto é o que diz um aviso camarário visível num painel à entrada.

O espaço, que estava repleto de vegetação rasteira até há poucos dias, foi limpo, as imediações decoradas com motivos alusivos às festas, os divertimentos e as barracas de venda começaram a ser instalados e lá dentro estacionaram os camiões de apoio aos feirantes. Até que, na semana passada, a poucas horas da abertura do recinto, a Polícia Municipal terá comunicado que, afinal, e devido às queixas de diversos moradores das redondezas, os festejos não se iriam realizar. Nas imediações, além dos prédios de habitação e do liceu, situa-se o Hospital de Dona Estefânia, a mais importante unidade pediátrica da cidade. Mas o presidente da junta garante ter recebido “declarações” por parte dos responsáveis hospitalares e escolares dizendo que “não se opõem à realização das festas naquele sítio”. Tal como terá recebido também o apoio dos moradores, diz.

“A Câmara alega que recebeu muitas assinaturas, mas também posso dizer que lhe foram encaminhadas imensas assinaturas a pedir a realização das festas. Além disso, se tal fosse considerado necessário, haveria sempre uma forma de reduzir o ruído na fonte”, alega João Taveira, o presidente da edilidade que, dentro em breve, desaparecerá para dar lugar à nova junta de Arroios – que agregará também as actuais freguesias dos Anjos e da Pena. “Não conseguimos encontrar uma motivação técnica válida para esta tomada de decisão, que muito lamento e que vai contra a vontade da maioria da população”, disse Taveira, ontem à noite, durante a reunião descentralizada do executivo municipal, realizada nas instalações do Lisboa Ginásio Clube, na Rua dos Anjos, e destinada a ouvir a população das freguesias de Alvalade, Alto do Pina, Campo Grande, Anjos, São João Brito, São João de Deus, Pena e São Jorge de Arroios.

O presidente da junta, que acusou os serviços camarários e o executivo de António Costa de tomarem uma medida “profundamente anti-democrática”, disse que “noutras freguesias não foi tomada a mesma decisão”. “Todos os elementos por nós encaminhados para a câmara não tiveram peso”, lamentou. E concluiu, afirmando que, “não existindo razões técnicas que justifiquem tal medida, a única justificação é que tal se trata de uma decisão política tomada por influência de uma determinada força política, para dar a ideia que o presidente da junta não cumpriu a promessa de fazer as festas”. Nem Costa nem os outros vereadores com cargos executivos responderam à acusação.

Publicado no blog O Corvo